sábado, 6 de fevereiro de 2010

Política é, também, discurso


O Governo vai, de maneira inteligente, encontrando o discurso que deve dar alguma sustentação ideológica à sua candidata. A idéia, aparentemente simples, foi utilizada na campanha de 2006, só que já próximo das eleições: a velha questão do privatismo versus estatismo. Desta vez, ela vai mais cedo, conforme revela matéria publicada neste sábado pelo Globo, página inteira do principal caderno, mais matérias na página sequinte. A Folha de São Paulo também acerta na reportagem e fala em "guinada à esquerda". A estratégia - que deve tomar a pauta da mídias nas próximas semanas, deve centrar fogo no programa Minha Casa, Minha Vida e no projeto de banda larga na escola. Ou seja, não se trata de eleição plebiscitária, pois o governo aposta em propostas para o futuro. Enquanto isso, a oposição... faz o jogo do governo, compra a pauta e repercute muito mal, com um discurso economicista, um rascunho de proposta que será submetido ao congresso do PT. Dá a impressão de que estão com saudades do PT da Carta dos Brasileiro. O DEM e o PSDB sequer têm coragem de repercutir o Ciro Gomes, que vem metralhando o PT. Afinal, como disse o Millôr: "não é porque sou paranóico que não estou sendo perseguido!". É de dar pena essa estratégia e a completa falta de assunto político...
Serra, por sua vez, aparece no Estadão numa foto pouco simpática, tentando vencer, com um abraço, a timidez de uma criança. Defendeu uma pauta que não é dele (a autonomia do judiciário, ainda repercutindo o PNDH III) e informando que vai receber Madonna.

A matéria do Globo é a mais completa dos jornalões. Conta que na inauguração da primeira fábrica de chips da América Latina, a estatal com fins lucrativos Ceitec, da área de microeletrônica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, précandidata do PT à Presidência, exibiram ontem em Porto Alegre discurso afinado na defesa da presença forte do Estado na economia.
Um argumento que deve ser batido durante a campanha está pronto: "O presidente declarou que o governo não quer “estatizar por estatizar”, mas não abrirá mão de mostrar que “tem bala na agulha” para forçar o empresariado a ser mais parceiro e competitivo. Deu como exemplo a intenção de levar banda larga a todas as escolas públicas do país, com ou sem a participação da iniciativa privada."
O discurso serve para justificar e ampliar os efeitos do Minha Casa, Minha Vida: Dilma ilustrou seu pensamento com o seguinte exemplo: — Como é que a gente vai fazer moradia para todos os brasileiros que ganham até três, quatro salários mínimos, sem subsídio? A equação não fecha, porque o que eles ganham não é suficiente para pagar uma casa.
Aí o Estado tem de entrar pesado."

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